terça-feira, 21 de maio de 2013

Virada cultural: mega evento é política cultural?


A Virada é legal, mas me desculpem os que adoram, isso não é uma política cultural.

Investir em cultura uma vez por ano, não é uma política cultural. 
Um evento que a cidade não comporta, não é uma política cultural. 
Evento não é política cultural...



Por que não investir em cultura o ano todo e em toda a cidade?
Por que não investir essa verba em produções menores, em palcos mensais, e oficinas artísticas, em pequenos grupos de teatro, em produções nos CEUs, mais projetos no VAI e em uma política sustentável de cultura?
Por que temos que ter um evento super hiper mega que tudo acontece ao mesmo tempo e ninguém assiste tudo o que gostaria pois é impossível estar em mais de um lugar ao mesmo tempo e é impossível curtir 24h sem parar?
Indústria do espetáculo não é cultura... 

Pensemos... 

Entre os planos de 100 metas do governo Haddad temos outras opções. Foram incluídas 8 metas de política de governo para a política cultural do município, entre elas está a Virada.. 
Espero que isso não fique esquecido e que a prioridade não seja, como foi na gestão Kassab, a Virada como única opção de cultura na cidade: 

Objetivo 5 - Ampliar o acesso da população à cultura, por meio de equipamentos e ações, a partir da sua descentralização no território
• Meta 21 - Obter terrenos, projetar, licitar, licenciar, garantir a fonte de financiamento, construir e instalar pelo menos 1 equipamento cultural nos 19 distritos que não possuem qualquer tipo de equipamento público de cultura
• Meta 22 - Alcançar um calendário anual que inclua uma Virada Cultural no Centro, 2 Descentralizadas e mais 3 outros eventos temáticos
• Meta 23 - Viabilizar dois novos Centros Culturais de Referência
• Meta 24 - Ampliar a rede de Pontos de Cultura na cidade, com a inclusão de 300 novos pontos
• Meta 25 - Criar e efetivar o Fundo Municipal de Fomento à Cultura
• Meta 26 - Apoiar 300 artistas por meio do programa Bolsa Cultura
• Meta 27 - Atingir 160 projetos anuais dos programas de Fomento ao Teatro, Dança e Cinema
• Meta 28 - Atingir 500 projetos fomentados pelo Programa para Valorização das Iniciativas Culturais (VAI) e pelo VAI 2.



O Prof Teixeira Coelho divide os “Modos ideológicos das políticas culturais em três tipos: (1) “Políticas de dirigismo cultural” que se divide em “Tradicionalismo patrimonialista” e “estatismo populista”; (2) “Políticas de liberalismo cultural” como, por exemplo, as políticas de mecenato e patrocínio; (3) “Políticas de democratização cultural” baseada em produção cultural a partir de grupo e processos participativos. (COELHO, Dicionário critico de política cultural, 2012, p.320) 



Como disse antes EVENTO NÃO É POLÍTICA CULTURAL! A Virada é um evento pretende "democratizar" a cultura, trazendo shows de graça para a população de diversos tipos, porém, será que produzir mega espetáculos é de fato um fomento à cultura? Numa cidade mega como SP tudo realmente precisa ser mega??



As únicas tentativas de democratização observadas nas ações culturais da Prefeitura de São Paulo nos últimos anos partiram de projetos desenvolvidos durante as gestões das Prefeitas Luiza Erundina e Marta Suplicy. Na gestão da prefeita Erundina, tivemos uma série de projetos desenvolvidos pela Secretária Municipal de Cultura a Professora e Filosofa Marilena Chauí, entre eles: “Grafite e a pichação em São Paulo” (1989); “Rede imaginária: Televisão e democracia” (1990), “Ciclo Mario Pedrosa de Arte e Política” (1991) e “São Paulo dos 1000 povos: diga não ao preconceito, diga sim à solidariedade” (1992). Já no período do governo da Prefeita Marta Suplicy (2001 – 2005) durante a gestão da pasta pelo Secretário João Sayad houve a implantação do programa auxiliar de cultura o “Programa para a Valorização de Iniciativas Culturais” conhecido popularmente como “VAI”, implementado pela lei municipal 13540 (de autoria do vereador Nabil Bonduki) e regulamentado pelo decreto 43.823/2003, com a finalidade de apoiar financeiramente, por meio de subsídio, atividades artístico-culturais, principalmente de jovens de baixa renda e de regiões do Município desprovidas de recursos e equipamentos culturais.”[1] O programa VAI não foi ampliado nas gestões seguintes , o que demonstrou a indiferença para com a democratização cultural e as prioridades da Prefeitura durante a gestão Kassab, ao disponibilizar o montante de apenas 20 mil reais para cada projeto aprovado no VAI, enquanto que na Lei Mendonça o montante permitido via mecenato é de até um milhão de reais por projeto. 

Com a entrada do novo prefeito Fernando Haddad em 2013 as perspectivas de maiores investimentos no programa VAI são ampliadas. Entre as 100 metas de governo propostas pelo novo prefeito em março de 2013 está a ampliação do programa VAI que no ano de 2012 aprovou 177 projetos culturais. No plano de 100 metas do novo prefeito, doze metas decorrem dos planos de cultura.  “meta 28 – Atingir 500 projetos fomentados pelo Programa para Valorização das Iniciativas Culturais (VAI) e pelo VAI 2.” [1]
Um dos diferenciais que achamos importante ressaltar é do caráter pouco burocratizado para a inscrição de projetos pelo programa VAI. As propostas enviadas apenas utilizam um formulário simples encontrado no Blog do programa. Os itens elencados para a inscrição ainda que sejam similares a um projeto cultural habitual não requer do candidato um conhecimento prévio sobre inscrição de projetos nas leis de incentivo á cultura. Itens complexos como orçamento não são exigidos como parte do  detalhamento do projeto. Basta que o produtor informe os valores gerais. A obrigatoriedade de uma inscrição simplificada é uma característica do Programa VAI e inclusive aparece no texto da lei. “Art. 7º - A inscrição para o Programa VAI deverá ser feita de forma simplificada, em locais de fácil acesso e em todas as regiões do Município.”(LEI VAI, 2003, p. 3)
(QUEIROZ, Inti. Trecho da pesquisa de Mestrado em andamento, 2013)






[1] Fonte Blog Programa VAI < http://programavai.blogspot.com.br/ > acesso em 10 de janeiro de 2013. 
[1] Programa de metas do governo Fernando Haddad 2013  < http://ww2.prefeitura.sp.gov.br//videos/AF_FolhetoProgramaMetas.pdf> acesso em 28 de março de 2013. 

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