sábado, 13 de agosto de 2011

Um pouco sobre o Folclore...


FOLCLORE

Inti Anny Queiroz

A pesquisa que se segue foi desenvolvida para a disciplina de Literatura Infantil 3 do curso de letras da Universidade de São Paulo e visa abordar, explorar e desenvolver alguns pontos pertinentes ao estudo do folclore brasileiro, principalmente os assuntos relacionados ao universo infantil e a poesia proveniente do folclore infantil no Brasil. A convenção do que significa folclore é o outro ponto abordado na pesquisa. Definir se um fato da cultura popular pode ser realmente definido como folclore e como ocorre a definição disso de acordo com pontos estabelecidos pela UNESCO. Partiremos de estudos realizados pelo conhecido folclorista brasileiro Luiz Câmara Cascudo, que desenvolveu durante toda sua vida diversos estudos sobre o folclore brasileiro, para entender um pouco da historia do Folclore. Um breve contexto histórico da formação de uma cultura popular servirá de base para entendermos como o folclore está inserido na cultura brasileira. Para compreendermos de que modo o folclore foi absorvido por poetas contemporâneos, apresentaremos uma pequena amostra da obra dos poetas Ricardo Azevedo e Eva Furnari, ambos escritores e ilustradores.
Folclore é um gênero de cultura de origem popular, constituído pelos costumes e tradições populares transmitidos de geração em geração. Todos os povos possuem suas tradições, crendices e superstições, que se transmitem através de lendas, contos, provérbios, canções, danças, artesanato, jogos, religiosidade, brincadeiras infantis, mitos, idiomas e dialetos característicos, adivinhações, festas e outras atividades culturais que nasceram e se desenvolveram com o povo.
A pesquisa folclórica tem como objeto de estudo “o homem em suas manifestações espontâneas de pensar, sentir, agir e reagir. Pesquisa folclórica é o estudo científico desses fatos, aceitos coletivamente em sua trajetória dinâmica” (GARCIA & SANTOS, 1983, p.110). O reconhecimento de um fato folclórico não depende apenas do reconhecimento popular. “Buscam-se as causas que provocaram seu surgimento, sua difusão, sua função no grupo, sua atual conformação ou seu desaparecimento, estabelecendo-se correlações sociológicas, psicológicas, históricas e geográficas”.(Idem)
A primeira questão pertinente ao nosso estudo é a definição de um fato folclórico nos dias de hoje. Para se determinar se um fato é folclórico, segundo a UNESCO, ele deve apresentar as seguintes características:
·           Tradicionalidade, a partir de sua transmissão geracional, entendida como uma continuidade, onde os fatos novos se inserem sem ruptura com o passado, e se constroem sobre esse passado. Dinamicidade, ou seja, sua feição mutável, ainda que baseada na tradição. Funcionalidade, existindo uma razão para o fato acontecer e não constituindo um dado isolado, e sim inserido em um contexto dinâmico e vivo. Aceitação coletiva: deve ser uma prática generalizada, implicando uma identificação coletiva com o fato, mesmo que ele derive das elites. Esse critério não leva em conta o anonimato que muitas vezes caracteriza o fato folclórico e tem sido considerado um indicador de autenticidade, pois mesmo se houver autor, desde que o fato seja absorvido pela cultura popular, ainda deve ser considerado folclórico.

Historia do Folclore Brasileiro

No Século XIX, D. Pedro estimulou a produção cultural que ativasse símbolos nacionais. Proporcionou o encontro de muitos nobres e estrangeiros endinheirados com artesãos e artistas que precisavam de apoio financeiro para produzir sua arte.
Foi neste período que a arte nacional começou a tomar forma, seja na música, na pintura, na poesia. Gonçalves Dias iniciou esse processo e divulgou nossa personalidade cultural a partir do Poema “Canção do Exílio, um marco na cultura brasileira de exaltação de uma cultura inteiramente brasileira.
Na década de 30 (Sec. XX), Mario de Andrade dirigiu o Departamento de Cultura do Estado de São Paulo entre 1935 e 1938, abrindo cursos para a formação de pesquisadores, onde palestraram eruditos renomados como Lévi-Strauss. As cadernetas dos pesquisadores do departamento estão sendo digitalizadas em 2011 através da Lei Rouanet.
Na década de 1950 essa movimentação se multiplicou em larga escala, atraindo outras figuras ilustres como Cecília Meireles, Câmara Cascudo, Edison Carneiro, Florestan Fernandes e Gilberto Freire,além de estrangeiros como Roger Bastide e Pierre Verger. O movimento folclorista nesta época encontrou a consagração institucional maior na Comissão Nacional de Folclore, fundada em 1947 por Renato Almeida, através de recomendação da UNESCO, vinculada ao Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura e à própria UNESCO. No contexto do pós-guerra, a preocupação com o folclore se inseria nas iniciativas em prol da paz mundial.
A comissão Nacional do Folclore foi incorporada à Funarte, transformou-se em 1979 no Instituto Nacional do Folclore. Em 1990 o Instituto passou a ser denominado Coordenação de Folclore e Cultura Popular, hoje chamado Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, vinculado ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), vinculado ao Ministério da Cultura e tendo como missão declarada "formular, fomentar e executar programas e projetos em nível nacional voltados para a pesquisa, documentação, difusão e apoio a expressões das culturas populares brasileiras"
.Em 1986 é aprovada a Lei de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet) onde o Folclore brasileiro foi novamente discutido e classificado. A importância de refletirmos sobre a divisão do que é cultura popular e cultura de massas foi novamente posta a prova dentro do assunto Folclore. Muitos símbolos importantes do folclore Brasileiro como o Carnaval fora de época, foram deixados de fora dos benefícios da lei de incentivo a cultura. 
A discussão atual sobre a nova lei federal de incentivo a cultura (PROCULTURA), que atualmente está em fase de aprovação no senado federal.
Luís da Câmara Cascudo (Natal, 30 de dezembro de 1898 — Natal, 30 de julho de 1986) foi um historiador, folclorista, antropólogo, advogado e jornalista brasileiro. Passou toda a sua vida em Natal e dedicou-se ao estudo da cultura brasileira. Foi professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). O Instituto de Antropologia desta universidade tem seu nome. Pesquisador das manifestações culturais brasileiras, deixou uma extensa obra, inclusive o Dicionário do Folclore Brasileiro (1952). Entre seus muitos títulos destacam-se: Alma patrícia (1921), obra de estréia, Contos tradicionais do Brasil (1946). Estudioso do período das invasões holandesas, publicou Geografia do Brasil holandês (1956). Suas memórias, O tempo e eu (1971) foram editadas postumamente. Quase chegou a ser demitido por estudar figuras folclóricas como o lobisomem. Ele escreveu 31 livros e 9 plaquetas sobre o folclore brasileiro, em um total de 8.533 páginas.
Na obra Vaqueiros e cantadores (1939) Cascudo reúne quinze anos de sua vida entre notas, leituras, observações e sonhos de compendiar uma obra que fosse capaz de responder à altura da memória, identidade e alteridade da produção sertaneja.  A obra nos revela a forma de como o homem do sertão encontrou para se manifestar e revelar os seus sentimentos. Récitas de boi, valentia de vaqueiros ou caçadores, os ciclos heróicos de cangaceiros, os tema satíricos envolvendo a política, enfim, a poesia (ou trovas) tradicionais emanadas ao ciclo social, do gado, da memória a que se submete guardar os romances primitivamente cantados desde épocas trovadorescas, quando o Brasil ainda não era Brasil.
Nesta temos a poesia pura, sertaneja, valendo-se de experiências, qual prazer aos cantadores e recitadores é em cantar/contar acontecimentos em seus momentos de ociosidade, causando prazer e até reflexão ou compaixão aos seus ouvintes. A poesia sertaneja por muito tempo se fez como jornal de notícias, de aparatos pedagógicos, de discussão de temas sociais e até denúncias de injustiças acometidas ao povo.
No livro Literatura oral no Brasil (1952) Cascudo verificou a origem, por vezes remota, de fatos e histórias presenciados e ouvidos no sertão. A curiosidade do erudito juntou-se à realidade vivida, base de sua extensa obra, sempre palpitante de vida.
Começando pela origem do conceito de literatura oral, a sua abrangência e vitalidade, limites e transmissão, registrando e estudando as infindáveis manifestações de cultura transmitidas pela oralidade: canto, dança, mitos, lendas, fábulas, tradições, rondas infantis, parlendas, mnemonias, adivinhas, anedotas (importância da oralidade).
Capítulos especiais são dedicados aos contos (contos de encantamento, de exemplo, facécias etc.), autos populares e poesia em suas múltiplas manifestações, completados com antologia. Cascudo registra, analisa, compara a presença de tradições em vários povos, sempre migrando, "ondulantes na imaginação coletiva", a contribuição de portugueses, negros e indígenas, assim como as fontes impressas da literatura oral brasileira, a partir do século XVI, muitas delas ainda presentes em nosso cotidiano, numa impressionante vitalidade do espírito popular.

Folclore Infantil

Nosso estudo buscou exemplificar o folclore infantil a partir de alguns pontos pertinantes ao folclore contemporâneo. O estudo da origem de alguns fatos folclóricos em si não serão abordador aqui. Para pontuar o folclore que permeia o universo infantil, analisaremos alguns pontos como: Lendas(narrativa fantasiosa transmitida pela tradição oral através dos tempos); Parlendas (Trava língua, rima infantil, de ritmo fácil e de forma rápida); Adivinhas (charadas desafiadoras que fazem as pessoas pensar e se divertir); Cantigas de roda (brincadeiras de roda que utilizam musicas); Festas temáticas (junina).

Ricardo Azevedo escritor e ilustrador paulista nascido em 1949, é autor de mais cem livros para crianças e jovens. Ganhou quatro vezes o prêmio Jabuti com os livros Alguma coisa (FTD), Maria Gomes (Scipione), Dezenove poemas desengonçados (Ática) e A outra enciclopédia canina (Companhia das Letrinhas) o APCA e outros. Tem livros publicados na Alemanha, Portugal, México, França e Holanda. Bacharel em Comunicação Visual pela Faculdade de Artes Plásticas da Fundação Armando Álvares Penteado e doutor em Letras pela Universidade de São Paulo. Pesquisador na área de cultura popular. Professor convidado em cursos de especialização em Arte-Educação e Literatura. Tem dado palestras e escrito artigos, publicados em livros e revistas, abordando problemas do uso da literatura de ficção na escola. Tese de doutorado: “Abençoado e danado do samba” – USP / DTLLC. Azevedo comenta sobre o universo infantil e a literatura:

“ Há crianças de 8 anos que já trabalham. Há meninas de 11 anos que já são mães. Há filhos de pais separados. Há crianças que perderam o pai. Há traumas. Há temperamentos. Há sonhos. Há vivências absolutamente pessoais (o gosto, os prazeres, a perspectiva do sublime). Além disso, é possível encontrar, num mesmo grupo, pessoas oriundas de tradições, culturas e concepções de mundo diferentes. Em suma, há de tudo quando levamos em conta o plano da existência particular e não o da genérica, esquemática e higiênica estatística. A visão que temos hoje do que seja criança é ligada, naturalmente, ao nosso contexto histórico, social, científico (epistemológico) e cultural. Estamos habituados a conviver, pelo menos em certas classes sociais, com uma infância apartada da vida adulta (do trabalho, da sexualidade, da política etc), habitando um universo delimitado por assuntos escolares, certo vocabulário, certas brincadeiras e certos assuntos.”

Eva Furnari nasceu em Roma (Itália) em 1948 e chegou ao Brasil em 1950, radicando-se em São Paulo. Formada em Arquitetura, é escritora e ilustradora de livros infantis desde 1980. Tem mais de 50 livros publicados no Brasil e em países da América Latina. Ao longo de sua carreira recebeu diversos prêmios, entre eles. Por diversas vezes recebeu prêmios da FNLIJ e da APCA recebeu o prêmio pelo conjunto da obra.
Colaborando com a Folhinha, suplemento infantil do jornal paulistano , criou sua personagem mais famosa: a Bruxinha. Como autora infanto-juvenil e como ilustradora recebeu o Premio Jabuti nos anos de: 1986, 1991, 1993, 1995, 1998 e 2006. Em 2002 foi escolhida para ilustrar a reedição de seis livros da obra infantil de Erico Veríssimo.




Referências bibliográficas
AZEVEDO, Ricardo. “Literatura infantil: origens, visões da infância e certos traços populares” IN: ESCARPIT, Denise. La literatura infantil y juvenil en Europa. Trad. Diana Flores,  México, Fondo de Cultura Económica, 1981.

CASCUDO, Luis da Câmara. Antologia do folclore brasileiro. vol. 1 e 2. 8ª ed. São Paulo Global, 2002.

CASCUDO, Luis da Câmara. Literatura oral no Brasil. 3ª ed. São Paulo: Global, 2002.

GARCIA, Rose Marie. & SANTOS, Ilka. Preparo básico para pesquisa folclórica. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 1983.


Outras fontes:

Site do Ministério da Cultura



Palavras-chave: folclore, cultura popular, poesia infantil, lendas. 




Um comentário:

  1. Alguns pontos foram apenas citados neste paper (como os detalhes sobre lendas, parlendas, etc), mas foram desenvolvidos na pesquisa mais extensa que foi apresentada numa versão bem maior e num seminario em sala de aula.

    ResponderExcluir